Final de Ano e Diabetes: Emoções sem Estresse!

Equipe de Reportagem - 20/12/2005 00:00

Final de ano lembra Papai Noel demais, correr demais, gastar demais, comer demais... é praticamente impossível não se deixar envolver. Este tipo de estresse pode provocar um descontrole no diabetes, ou mesmo fazer com que o diabetes se manifeste pela primeira vez nesta época. Quem sabe não foi este o seu caso? Aqui algumas explicações sobre como o estresse se manifesta e algumas dicas para você curtir o final de ano numa boa, evitando as conhecidas armadilhas.
Recomendações para Festas sem Estresse
Especificamente para evitar o estresse do final do ano, o fundamental é planejar tudo com antecedência, para que a correria não acabe em estresse, e que além de tudo você ainda tenha que lidar com uma glicemia de 300,0. Planejar inclui tudo, desde fazer a lista de cartões e presentes, comprando tudo antecipadamente sem ultrapassar o orçamento, até marcar a manicure com bastante antecedência para não acabar com o profissional errado, sem esquecer de pedir orientações à equipe que cuida do seu pé para esta época e as férias. Nem todos acham esta época de estressante, muitos se alegram com esta movimentação toda. Mas o planejamento pode incluir um programa relaxante para substitui a agitação, ou até mesmo um retiro espiritual antes ou depois das festas. Viajar pode ser uma boa opção, mas para sua família sua presença pode ser fundamental. Assim, você deve descobrir exatamente o que lhe dará alegria e pouco estres se. Também é importante planejar a sua refeição. Ainda que a dose de insulina possa ser corrigida pela taxa de carboidratos é importante garantir a presença de legumes, frutas e verduras, alimentos saudáveis que podem contrabalançar alimentos gordurosos e doces, que assim seriam ingeridos com a devida moderação.
Agitação o Ano Todo
Na verdade, a vida moderna, principalmente o mundo urbano capitalista, é marcada por muita agitação o ano todo. Nas grandes metrópoles, o cidadão comum se vê cercado por diversos problemas, como a violência; o custo de vida elevado; as disputas acirradas por melhores colocações no mercado de trabalho; engarrafamentos gigantescos; individualismo; e outros dramas comuns da era contemporânea, que se somam às questões familiares e pessoais como o próprio diabetes.
Em meio a esse bombardeio diário da vida urbana, o estresse cotidiano já se tornou uma espécie de companheiro íntimo, presente como um termômetro que aquece de acordo com as diversas situações do dia-a-dia. Em algumas épocas, como nas festas de final de ano, estas demandas são especialmente acentuadas. Enquanto o importante deveria ser estreitar laços familiares e de amizade, os símbolos insistentes do Natal provocam em muitas pessoas não apenas tédio, mas angústia e frustração, já que não somos tão bonitos e, nem de longe, felizes como as pessoas que aparecem nas propagandas. Isso causa uma cobrança extra em nossas vidas, a qual é definitivamente agravada pela sensação de final de ano, balanço, promessas não cumpridas. O sucesso profissional um ano mais distante, o peso que só piorou apesar do empenho do médico, o controle do diabetes que ainda não está perfeito. Não é preciso ser um especialista para notar que tantas alterações emocionais atingem em cheio o organismo.
Geralmente, os exemplos mais notados pela população são os casos de infarto e úlcera nervosa. Mas saiba que o descontrole do diabetes e, em alguns casos, o surgimento da disfunção podem estar relacionados a uma vida estressada e a períodos especialmente estressantes. é o que explica a Dra. Rosângela Réa, especialista da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Antes do Diagnóstico
Em primeiro lugar, a Dra. Rosângela Réa salienta que as alterações emocionais são capazes de desencadear o diabetes apenas quando o indivíduo já apresenta um quadro de pré-diabetes. Este é caracterizado no Diabetes tipo 2 pela Intolerância à Glicose e pode ser devido à predisposição genética (casos na família) e/ou fatores de risco como idade superior a 45 anos, obesidade, falta de exercícios físicos regulares, hipertensão arterial, entre outros. Pode tratar-se também de um paciente com marcadores imunológicos para o diabetes tipo 1, como o anti-GAD e o ICA, que já apresenta uma perturbação na secreção de insulina, mas ainda com a glicemia de jejum normal.
Partindo desse princípio, a especialista explica que momentos de estresse agudo fazem com que o organismo produza substâncias que elevam a glicemia, os chamados hormônios do estresse, como o glucagon e a adrenalina. Estes hormônios seriam produzidos para aumentar a glicemia no caso, por exemplo, de ser necessário fugir em uma situação de perigo. Isto representa um desafio para células produtoras de insulina que já estejam doentes, porque há a necessidade de uma produção maior das células produtoras de insulina, para normalizar a quantidade de açúcar no sangue. Caso estas células, as chamadas células beta, já estejam no seu limite de produção pode ser desencadeado o diabetes.
Assim, dois casos podem ser identificados: no primeiro, uma pessoa pode desenvolver o diabetes por ocasião de um impacto emocional inesperado – como a perda de um ente querido ou um acidente de carro, por exemplo. Aqui, segundo a Dra. Rosângela Réa, a reserva de insulina já estava no limite. Ou seja, o indivíduo já estava preste a desenvolver a disfunção. Esta demanda emocional pode ainda ser acompanhada de um aumento na ingesta alimentar, especialmente de doces, como no caso das festas de final de ano.
Já no segundo caso, é verificado o estresse crônico ou prolongado, que realmente carrega uma probabilidade de contribuir para o surgimento do diabetes, em uma pessoa que apresenta os fatores de risco já mencionados. Neste caso é como se a pessoa se sentisse permanentemente ameaçada, angustiada, podendo precisar de fugir a qualquer momento. “Um grande estresse, mas ocasional como uma grande perda, só desencadearia o diabetes de uma pessoa que já estivesse a um passo da doença. Já o estresse do dia-a-dia ou um estado depressivo prolongado, poderia teoricamente favorecer a instalação da doença”, explica.
Assim, além das orientações médicas que recomendam mudanças simples no estilo de vida, como a prática de exercícios físicos e a elaboração de um planejamento alimentar para prevenir a disfunção, fica evidente a pertinência de levar uma vida emocionalmente equilibrada.
Após o Diagnóstico
Após a constatação do diagnóstico do diabetes, em qualquer época do ano, a Dra. Rosângela Réa ressalta a importância do apoio da família e da relação médico-paciente. Ela analisa que o acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra também pode estar indicado em situações com maior demanda emocional, inclusive no impacto sofrido pelo indivíduo ao se descobrir portador de diabetes. “O reconhecimento da integração de temas psicológicos com o tratamento é fundamental. Aumenta as chances de sucesso no tratamento”, orienta.
Segundo a especialista, os estados depressivos são mais freqüentes em pessoas com diabetes tipo 1 do que na população geral. “Esta associação é amplamente reconhecida em muitos grupos de pacientes com doenças crônicas. No caso do diabetes, a depressão ainda dificulta o controle glicêmico, aumentando a sensação de frustração do paciente e o medo de complicações futuras. O que agrava a depressão em um círculo vicioso”, explica.
“Tenho ainda recomendado estratégias de relaxamento, como as desenvolvidas através da ioga e de atividade lúdicas como a pintura ou a dança. Também é importante realizar atividades ao ar livre e exercícios físicos prazerosos. Pode-se recomendar também a leitura de livros sobre técnicas de relaxamento ou meditação. Eu costumo indicar o livro da psicóloga e ambientalista, Susan Andrews, intitulado ‘Stress a Seu Favor’. Esclarecedor e não estressante”, acrescenta.
Pontos Curiosos
Além do contexto geral já explicitado, freqüentemente outras dúvidas mais específicas às questões emocionais se refletem em inúmeros e-mails enviados à redação do site da SBD. Uma que persiste, e pode ser perigosa caso não seja esclarecida, é a crença de que existe o “diabetes emocional”.
Segundo a Dra. Rosângela Réa, essa “categoria” é uma lenda e torna-se complicado quando muitos portadores acreditam que a disfunção surge e desaparece de acordo com o estado emocional. “Embora o estresse emocional possa contribuir para o aumento da glicemia, como já foi visto, esta crença é perigosa, na medida em que o indivíduo culpa exclusivamente o nervosismo pelo descontrole da glicemia e, às vezes, acredita que o diabetes é exclusivamente devido ao estado emocional”, adverte.
Outra situação interessante, e que também desperta muitas dúvidas, diz respeito ao período pré-menstrual. Como se sabe, a TPM já virou sinônimo de dias delicados do humor feminino. A especialista explica que descontroles emocionais, e conseqüentemente variações na glicemia, realmente podem ocorrer neste período. “A TPM já é considerada uma situação na qual pode ser necessário indicar um aumento temporário na dose de insulina basal. A tendência de aumento na glicemia pode ser devida ao estresse da situação ou à própria variação hormonal vivida pela paciente. Estratégias de relaxamento são igualmente recomendadas”, finaliza.

EXPANSÃO DO CHA